Meu nome é Claudia Visoni, sou brasileira, jornalista, ambientalista e agricultora. Tenho 57 anos, nasci e vivo na gigantesca São Paulo, que concentra mais de 20 milhões de habitantes numa região metropolitana com poucas áreas verdes e muita desigualdade social. Ajudei a fundar a primeira horta comunitária da minha cidade e estou em contato frequente com agricultoras mulheres das comunidades mais vulneráveis da cidade.
O Brasil já vivia uma grave crise econômica na década passada, mas com a chegada da pandemia de Covid 19 a situação se agravou e a fome se alastrou. As pessoas dos bairros mais pobres não estão conseguindo acessar alimentos em quantidade suficiente para viver bem e mais difícil ainda é obter comida fresca e saudável. Por esse motivo, ajudei a fundar e até hoje trabalho na coordenação da Frente Alimenta, um projeto apoiado pela Be The Earth Foundation que conecta diretamente pequenos agricultores agroecológicos e seis cozinhas comunitárias que doam semanalmente cerca de 2.000 refeições saudáveis em suas comunidades. Em 2022 participei pela primeira vez do Giving Circle, grupo de mulheres de vários países que se unem para inventar e testar metodologias de apoio a lideranças femininas que estão na linha de frente dos mais graves problemas sociais que existem em suas nações. De um jeito informal e transparente, criamos uma espécie de mesa de negociações para decidir o destino de recursos filantrópicos oferecidos por Be The Earth Foundation. Foi uma experiência intensa e que rendeu muito aprendizado e bons frutos para a humanidade.
Sendo agricultora, sinto no corpo quanto esforço é necessário para produzir comida usando as técnicas da agricultura regenerativa. As agricultoras agroecológicas urbanas de São Paulo ajudam a nutrir suas comunidades, geram benefícios ambientais e até oportunidades de lazer em seus bairros. Em geral, suas hortas são os únicos espaços verdes da região. No entanto, elas não conseguem sobreviver dignamente apenas com os rendimentos das colheitas.
Na hora de distribuir os recursos provenientes do Giving Circle, escolhi uma cozinha comunitária e dois coletivos de mulheres agricultoras urbanas:

Academia Carolinas - Centro de acolhimento de crianças, adolescentes e mulheres criado durante a pandemia para ser um ponto de cultura e distribuição de refeições. É uma espécie de porto seguro na favela Souza Ramos, distrito de Cidade Tiradentes para quem vive na extrema pobreza e muitas vezes também se torna vítima da violência doméstica A crise alimentar é tão grande que as cozinheiras-ativistas do bairro não estavam conseguindo aproveitar bem os legumes oferecidos pela Frente Alimenta porque nunca tinham experimentado alimentos como berinjela.
O investimento foi em capacitação para essas cozinheiras, que agora estão aprendendo a fazer pratos cada vez mais saudáveis e começam a trilhar o caminho do empreendedorismo ecogastronômico. @academiacarolinas

Mulheres do GAU - Grupo de agricultoras que criaram um sistema agroflorestal, um viveiro escola e um centro de gastronomia em São Miguel Paulista, estremo leste da cidade de São Paulo. Elas precisavam expandir a plantação e conseguiram acesso a um terreno público.
No entanto, o local estava cheio de restos de construção típicos de terrenos ociosos nas periferias. Para iniciar uma nova horta seria preciso retirar todo aquele entulho. Trabalho muito pesado, insalubre, quase impossível. Se fosse feito com as mãos, levaria anos. E elas não tinham dinheiro para contratar uma retroescavadeira, que resolveria o problema em um dia. A primeira parcela da doação do Giving Circle serviu para o aluguel da máquina. E a segunda foi ajuda de custo para ajuda-las a se manter no período de instalação da nova horta, enquanto ainda não há colheita para comercializar. @mulheresdogau

Horta da Vila Nancy – Em 1994, a Vila Nancy, na zona leste de São Paulo, era o fim da cidade. Ainda com aspecto rural, a área recebia a população pobre que não tinha como pagar aluguel e construía suas casas de maneira improvisada com as próprias mãos. Ali faltava tudo, inclusive comida. Dona Elena de Araújo encontrou um terreno com fonte de água e começou uma horta. Três décadas se passaram e a pobreza do bairro apenas mudou de cor. Em vez do verde, agora predomina o cinza das pequenas casinhas que brotam a cada dia, umas coladas às outras, num local onde não há urbanismo oficial, serviços públicos e coleta de esgoto. As ocupações de moradia envolveram toda a horta que agora é um espaço agrícola circundado por favela. Dona Elena e um pequeno grupo de pessoas que já passaram dos 60 anos continuam plantando. Boa parte da colheita é doada para as famílias da vizinhança, que não têm como pagar. Na época das chuvas, um muro caiu e canteiros foram destruídos pela enxurrada.
As doações do Giving Circle serviram para consertar os estragos das chuvas e ajudar Dona Elena e seus companheiros a ter algum dinheirinho para sobreviver. @hortavilanancy

Claudia Visoni é jornalista, ambientalista, permacultora, agricultora urbana e ex-congressista estadual em São Paulo, Brasil. Ela co-fundou a Horta das Corujas, o primeiro jardim comunitário em uma praça pública da cidade de São Paulo.